sexta-feira, 31 de maio de 2013

~~Poema Com Todas as Letras~~




Acróstico

Assuma de uma vez o teu amor por Deus
Beije-se por dentro para que eu te sinta
Case-se consigo para que eu te diga
Dezenas de versos que colho da tua boca

Esfregue tuas mãos nas minhas, aqueça
Fornalha é o pulso intenso a explodir no peito
Grande é a delicadeza que rompe o amanhã
Hoje, tudo na planície cheira flor e relva

Inteiro estende-se o abraço a tempo esperado
Junto ao regaço acolherei tua aura e teu apelo
Kiss me in the dream the way you prefer
Lavaremos olhares, colírio, botão de lírio
Mel nos lábios para afagar a sede e a febre
Nuvens desprenderão alívio e chuva

Orvalho a aspergir no calor da face
Prêmio do anseio, gérmen do amor
Queimando lento ao emanar frescor, orvalho
Risos soltos, gargalhadas livres no rio
Sinos altíssimos abafarão gemidos
Toque sutil, sussurro mudo desprendido

Um a um em cada mínimo gesto, em tato
Verterão beijos que respiram versos 
Where is the breath, a new way
Xis para a foto viva, imagem que fica
Your look on my, God in us
Zênite ao redor, zênite ao redor, zênite.

Dione Scarpelli


quarta-feira, 29 de maio de 2013

~~Retratos Vivos~~



Sob nosso olhar, fotografamos.
Nossa câmera íntima resguarda 
a delícia da lembrança gravada
a pura visão, até debaixo d'água.

Momentos eternos, permanentes
registros fora do papel, na aquarela
do acervo dourado, além do aparente
instantes com trilha sonora e cheiro.

A água, a foto da água que escorria,
a roupa molhada da dama que estendia,
alva e alva, na qual se nadava, límpida
o olhar pela luz onde se mergulhava.

O encontro do olhar, o pulso vivo
a troca de risos, o sombreado na brisa
a visão de lado, a submersão profunda
a imagem trêmula envolta em lágrima.

Nada pendurado no painel, só sonho
nem estampado no álbum, culto recolhido
talvez no pincel, na obra de um gênio
a pureza no traço dum esboço atrevido.

Mas na canção do poema pode se ver
o retrato se revela, uma flâmula flutua
nele se traduz  a essência entranhada 
a moldura envolta em sentimento, nua.

Dione Scarpelli


Imagem: Studium 32, www.studium.iar.unicamp.br

terça-feira, 28 de maio de 2013

~~Navegar na Eternidade~~



Quando meu amado partiu
para o mergulho no mistério
do infinito, tive um sonho tão bonito,
nosso encontro de despedida.
Íamos numa prancha de wind-surf
que fluía, mas estava sem vela.
Varamos muitas e muitas léguas,
na visão, as águas claras como tela
assistimos às criaturas marinhas:
baleias, algas e tartarugas gigantes
submersas faziam companhia
golfinhos batedores comandavam
ouvíamos o som do mar e dos bichos.
Chegamos num longo pier onde 
aportamos no corredor. Junto à areia 
aguardavam a nossa chegada:
Siddhartha e um elefante marrom.
Saudei-os em reverência e recebi um sorriso.
Comentei sobre a beleza dos dois,
meu amado riu, saltou e com eles ficou.
Lembro de vê-los acenando, dia claro.
Eu já havia despertado numa outra praia,
sozinha, pouco tempo antes do cerimonial.
Após um mês, na sequência dos rituais tristes, 
triste voltei, para recolher as suas cinzas
estava tão comovida, meio perdida
quando surgiu o negro, um blues-man,
alto, sem dizer nada, guiou-me naquela dor, 
mostrou-me o caminho e seguiu.
Sua camisa dizia: surfing for eternity...

Dione Scarpelli


Imagem: Cena do filme A um passo da Eternidade.



segunda-feira, 27 de maio de 2013

~~Lã Pluma~~




O Brasil está virado pra lua!
Eu a vi pela janela, inflada como um pulmão.
Ela mostrou em relevo o mapa do meu país.
Como se usasse um espelho na sua glória,
e quisesse mostrar em reflexo a beleza da Terra.
Depois de cobriu de lã, como eu.
Mergulhar na noite, maravilhosa noite
onde descanso enquanto avanço
na graça de bem querer viver.
Ser tão sentida
ser tão sintonia
ser tão completa, a alegria.
Mexo mesmo, 
e todos os dias recebo o orvalho,
e reparto com a lua, 
absoluta, a salada de fruta.
Está bem, quase me convenceu, 
mas vai ter que sonhar de novo, 
desta vez quero estar acordada.

Dione Scarpelli

domingo, 26 de maio de 2013

~~Gorro de Afago~~




Algumas frases causam rugas
outras são bebês sorrindo...


Há palavras que são gorros,
outras são pele de carneiro
que disfarçam lobos.

Algumas são canteiros
outras iluminam o mundo inteiro.


Existem palavras de fogo,
faça frio ou faça estrago
segue o rio e não afogo, afago.


Eu só quero que fique bem, meu bem
porque o melhor do mundo é te ver sorrir
e sorrir também, sorriso de verdade, sabe?
Aquele que brota de quem muito chorou...


Tenho um buquê de flores diversas que vi hoje.

Trouxe uma peça tecida
para agasalhar a memória
e lhe trazer a carícia
contida no veludo da pétala.

Dione Scarpelli



sábado, 25 de maio de 2013

~~Disfarce~~




Usarei um truque antigo
vou me disfarçar de uma letra
uma letra insuspeita
para atravessar o teu dia
durante a leitura do estudo
no prazer de escutar canções
apenas para superar a espera
já que não vives por dentro
e queres afeto a todo o momento
serei o Y, por contradição
o Y a subir trinta e nove degraus
mais trinta e nove, por opção
dentro de uma nova situação.
Sendo assim enquanto I am, You are.

Dione Scarpelli


sexta-feira, 24 de maio de 2013

~~Sonho de Valsa~~




Imagino o giro, rodopio
nossos corpos celebram o amor
e no sopro de um vento frio
nossa roda emana calor.

No silencio surge a canção do momento
o sentimento faz marcação em outro tempo
no compasso do passo a passo uma voz
a calma canta enquanto dança entre nós.

O cenário é a estamparia do céu
sob o luar, sob as estrelas, voa o chapéu
voa o lenço, voamos nós, o vento levou
sobram os sonhos que a memória gravou.


Dione Scarpelli



quinta-feira, 23 de maio de 2013

~~Impressão~~




Sismou comigo, sismaram...
Entre tantas abordagens
bem mais perigosas,
pararam na minha e ficaram.
Agora escrevo no plural
sujeito composto, não por gosto
por aceitação, a raiz da equação.
Talvez eu faça o sofá sacudir
talvez eu faça o coração sacudir
devo ter cutucado o íntimo
não sei ao certo...Talvez
mesmo na minha ausência
eu permaneça por perto.
Quem sabe a fragrância
que atravessa distâncias
e nessas viagens, sem bagagens
criamos encanto, enquanto 
respiramos o ar puro
do amor inesgotável...

Dione Scarpelli



Imagem: Claude Monet,  Impression, Soleil Levant


terça-feira, 21 de maio de 2013

~~Paladinos~~




Tenho meus paladinos, creio que mais de mil...
Eles caminham comigo, muitos de tempos antigos
outros de outros mundos e vários imaginários.
O primeiro de que tenho lembrança surgiu na primeira infância,
tinha eu lá meus oito aninhos e fui procurar amiguinhos.
A amiga morava numa vila, ruazinha sem saída,
que abrigava umas cinco casas. Na frente de casa,
dava pra ver do portão. Minha casa era também da minha avó,
dos meus tios, dos meus pais. Meu avô, que era alfaiate,
já não era mais não, mas ficou o tesourão, nas mãos da minha avó.
Herói que não conheci, também faz parte do grupo.
Atravessei a ladeira, e entrei na vila da amiga,
mas ela saiu com a mãe, daí virei e voltei. Descalça.
Pouco antes da saída, entrou na pequena vila,
um homem de bicicleta que me perguntou sobre uma tal mulher
eu disse que não a conhecia, mas ele cruzou o caminho
e virado de costas para a rua principal,
tirou o pênis pra fora e disse que a tal mulher
escondia aquele "negócio" no meio das suas pernas.
Eu, menina, fui pernas pra que te quero!
Voei sobre o pneu da bicicleta,  e corri como uma heroína.
Esse foi o meu primeiro paladino: velocista,
atleta, cem metros rasos, pálido e exausto,
com uma coragem visceral, a mesma que bateu a porta. 
O vilão sumiu, como puro covarde. Envergonhada,
não contei aos adultos. Não contei pra ninguém,
mas descobri meu herói, minhas pegadas marcaram.
Passados mais alguns anos, fui com minha irmã no cinema,
duas crianças, à pé, eu penso que tinha doze, ela teria dez.
Fomos ver Robin Hood, uma reprise, num cinema próximo.
Sentadas, felizes. Ao meu lado, uma cadeira vazia.
Assim que a aventura começou, um homem sentou ao meu lado
e começou a roçar seu joelho no meu na maior cara de pau.
Quando o encarei, lá estava o pênis explícito.
Tarados, infelizes! Perdi o filme, a paz, agarrei firme a mão 
da minha irmã e antes de sair em disparada, avisei a gerência.
Corremos muito com receio do obsessivo vir atrás.
Como pode, um homem não dominar seus desejos
e avançar sobre a inocência sem o menor pudor?
É óbvio que não pensava em suas filhas e netas,
é certo que só tinha pensamento para sua tara
e nenhum sentimento por nada, por nada.
Robin Hood o encarou, Robin Hood fui eu. Mesmo correndo.
Invento meus heróis para defender-me de vigarices
por acreditar na pureza, por ser altruísta, por crer no bem.
Encarno meus heróis e alguns surgem do nada
mostram seus truques e ensinam-me como aplicá-los.
Assim os levo, nas minhas pegadas, 
algumas somem, outras deixam marcas.
E escrevo para lançar uma sementinha daquilo que creio:
creio num mundo melhor, num mundo onde as pessoas
transformando-se o transformam, e pensem nas suas
ações, que atuem com sentimento no bem comum.
Como heróis.


Imagem: O ator Errol Flynn, como Robin Hood (1938)



segunda-feira, 20 de maio de 2013

~~19~~




Salmo de Davi

Os céus proclamam a glória do Deus Forte;
as obras de suas mãos o firmamento as manifesta.
Um dia a outro dia pronuncia uma canção;
uma noite a outra noite aviva o conhecimento.
Sem fala e sem palavras, sem se lhes ouvir a voz.
Seu som, contudo, percorre toda a terra, 
e suas palavras vão até a extremidade do mundo;
aí pusera ele um pavilhão para o sol;
É ele qual noivo que sai de sua câmara;
folga como valente, por abrir caminho.
Sai de uma extremidade dos céus,
e faz seu circuito até os confins deles;
e nada há que a seu calor se furte.
Perfeita é de Jeová a lei que renova a alma;
verdadeiro é de Jeová o testemunho,
que ao ignaro torna sábio.
Retos são de Jeová os preceitos,
que o coração alegram; puro é
de Jeová o mandamento, que esclarece os olhos.
Puro é de Jeová o temor; que persiste para sempre; 
os preceitos de Jeová são verdadeiros,
quanto são justos todos eles.
São eles mais apreciáveis que o ouro,
ainda que o ouro apurado; e são mais
doces que o mel, qual o que os favos distilam.
Demais disso, é por eles teu povo advertido;
em os guardar há grande galardão.
Seus erros - quem é que os conhece?
De faltas secretas absolve tu.
Preserva, também, de insolência o teu servo;
que não hajam elas sobre mim império:
então eu serei irrepreensível; ficarei
isento de grande pecado.
Sejam bem aceitas as palavras de minha boca,
e o meditar de meu coração, em tua presença,
ó Jeová! Meu Rochedo e meu Redentor!


Selo da Rússia, emitido em 1975, cujo tema é a escultura de Michelangelo, Davi.

domingo, 19 de maio de 2013

~~Fim de Domingo~~




Lá se vai o domingo
ligeiro, leva o sossego
e chega o cheiro da segunda-feira
apressada, barulhenta e ainda assim
irei com ela, farei o meu contrapeso
lenta, vagarosa e sedenta.

Dione Scarpelli

Imagem: Caminhada da Lua Crescente de Eliete Tordin.

~~Menino~~



Ah menino,
você  imagina o que fez comigo?
Mostrou a magia, trouxe movimento, 
fez-me soltar os sonhos
alegria legítima que fez transbordar...
Em nossos acenos, és meu paladino, menino
e sou  fantasia, talvez a Narda, menina vogal...

Dione Scarpelli



Li muitas histórias do Mandrake, do Fantasma
na infância, aventuras maravilhosas.
Personagens em desenho criados por Lee Falk, anos 30.
Os li nos anos 60/70

sábado, 18 de maio de 2013

~~Arrisco~~





E como não sentir conforto? 
E como não mergulhar em plumas?
E como não correr o risco?
Se nos teus braços eu voo
e neste mar me aninho...

Coloco no teu bolso interno 
rabiscos de voos secretos 
que escapam do teu abraço.
Me pegas pelo encanto do conto do passarinho.
Adestro sardinhas pensando nos gatos que virão...
Todo maestro tem a batuta numa mão 
e na outra um diapasão.
Gosto de fazer trepidar...
Atente para que o móvel não permaneça imóvel.
Pode não parecer mas eu te curto em todas 
e quando não me agrada 
eu finjo que não vejo para aliviar o peso.
Não abrace preconceitos, disse o índigo.
Ame e atue, completou, na experiência.
Há um grande desafio: amar em qualquer circunstância! 
Fazer oposição de verdade! Fazer arder!
São muitos os jeitos de amar.
Gosto de você, principalmente tudo.
Eu consumo o sumo!

Dione Scarpelli



~~Meio-a-Meio~~




Pegadas descalças, silencio no espaço
trouxeram café, para um pouquinho
beijinhos na face alisam cabelos, desalinham
massagem nos ombros, aperto na nuca
sussurro no ouvido, bom dia!
Momento de pausa, hora do recreio
do abraço apertado, decote forçado
pegadas descalças, sobem pelos pés
e passos bailados deslisam na cera
na busca dum ângulo, a pele incendeia
a luz na janela, a música para
agora é a voz dela, de bem com a vida,
a fala gemida, convida, meio-a-meio.




quinta-feira, 16 de maio de 2013

~~A Missiva~~




Ai, como dói uma carta de adeus!
E como revivi os ais meus...
Já era meio-dia quando entrei na livraria
para refrigerar a alma, fui ganhar a pausa.
Filtrar do mar da poesia, fazer destilação.
Peguei o livro acessível, aquele que estava à mão,
era um livro dela, Florbela e abri aleatoriamente.
Eis que me vem ao presente, a triste carta de adeus.
Veio de lá, tão distante e fez-me naquele instante 
um rasgo tremendo no íntimo
pois abriu o que estava fechado,
o tema que tanto evito, ali tão bem escrito,
a voz do coração contrito, explícito...
A dor, vazando pelo papel, inundando a loja
a fictícia tempestade, a tormenta que arrebenta.
Era ela e eu. A tormenta e eu. Doeu o presságio,
não pude conter a explosão, chorei.
Por sorte estava semi-vazia, a livraria.
E fiquei ali um tempo, desprendendo o sentimento.
A invasão no profundo, a comoção.
Há limite para o amor? Não, nem a morte, 
nem o tempo encerra. Nem a cova na terra.
No fundo o amor te aborda em cheio
e dentro do imenso caloroso abraço, 
(mesmo se passar ao redor o sopro gélido, ártico)
ele te resguarda na envolvência, tal delícia.
E mostra o que tem de bonito
se esparrama, não traz a tristeza seca
e sim a emoção autêntica, genuína.
Vem amor comovido, tudo em ti faz sentido.
Preparou-me na luz do dia, pronta eu estava à noite.



Imagem: O livro que folheei.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

~~Aula de Voo~~



- Vai encarar?
- Me ensina a voar! Ela respondeu. 
Telepata, pensou nas alturas.
Dizem que ele cedeu...
E como ninguém trabalha de graça, 
ela reinventou uma praça, 
guardada dentro de um livro.
E num momento sereno e feliz, 
desfrutaram do existir.
Roçaram penas, tocaram nuvens,
banharam-se no chafariz...
Secaram-se sobre rochedos,
beberam em rios ocultos,
subiram por alpes, exploraram cavernas,
contornaram montanhas,
queimaram pegadas na areia,
dançaram em coretos escuros, nos carrosséis...
- Somos de espécies diferentes! 
Ele lembrou e beliscou, meio enjoado.
- Mas somos do mesmo gênero! Teu 
canto é o mais belo que conheço
jamais enjoaria, pode fazer o bis.
- Voe! Anunciou antes de bater as asas.
A bicada fisgou seu peito, sangraram plumas
doeu por dentro, chorou uma lagoa imensa
e ali se lavou, afastada dolorida, se reservou.
- Nem ouviu os badalos dos sinos, nem 
notou que o tempo parou...
E sobre um abismo profundo, voou.
Sorriu quando ganhava as alturas,
repleta transfigurou, e do alto assistiu
a lagoa  que no centro rompeu uma flor.
Ela sente que perfumou.


Imagem:  Brutus Ostling chamou a atenção desta gaivota com um pedaço de pão e conseguiu fazer este registro, na Noruega, publicada no dia da Terra, no site Terra.

terça-feira, 14 de maio de 2013

~~Oração Meditativa~~




Estão na minha meditação diária,
você e você e o mundo inteiro.
Reparto o alimento do espírito, 
façamos o banquete dos mendigos...
Eles merecem, somos todos irmãos.
Sejamos compassivos...
O começo pode ser um sorriso.
Sorrirei por ti, estranho
e desejarei tua saúde, alheio
te amarei de graça, distante
entrarei na tua prisão, 
aliviarei o teu coração
na minha meditação,
na oração, na energia.
My home is my heart.
Sou uma amiga dentro de mim
isso me faz amiga do tempo, do vento,
das 
formas, criações, sensações...

Isso me aproxima de Deus,
por isso estou em ti, também.

No abstrato enredo que não se explica, 
a luz se aplica.
Minha palavra, essa minha palavra crua, 
do português vira-lata, embebida no algodão da rua, 
flor de estopa, tecido da minha túnica, 
quem sabe se cozida no vapor, perfuma?
Deuses ciumentos são jurássicos.

Dione Scarpelli

~~Símbolo~~




Voava uma pena plumada
à merce da brisa, na estrada
de terra pisada, vermelha
onde sujos, os pés descalços
massageavam o chão...

A pluma, menor que o vento
bateu no peito, subiu sem jeito
roçou a pele, toque macio
aveludado, cinza dourado
no movimento, grudou na mão...

Retalho do corte da manhã
símbolo solto em desenho lento,
carinho é sopro da corujinha
melodia íntima, voz de fundo
pio de arrepio, lambida muda.



segunda-feira, 13 de maio de 2013

~~Nave Resplandecente~~





- De um lado um punhal...
- Do outro um cantil.
- E no centro?
- Uma corda afinada!
- As curvas eu vejo...
- Que fique só vendo!
- O que está caçando?
- O mundo melhor. E o arco?
- Procuro o caldeirão no braseiro.
- Soube que possui ouro inesgotável.
- Fervilhando!
- Este é o país certo! Fervilha a  mistura das raças
acrisoladas no caldeirão sobre pau-brasil. Estás no berço!
- Estamos atrasados...
- O amor é o ouro no seu estado gasoso.
- E gozoso...
- O amor nos dá a liberdade de colher o fruto da árvore 
e sorvê-lo na sua sombra. O amor pode fazer chover...
- Falou isso enquanto comia encostada na árvore, eu escutei
tudinho daqui onde aqueço nossos ovinhos, depois voaram!  
Disse a passarinha para o companheiro.
- Voaram? Então são dos nossos! Não há o que temer, isto
explica a nave resplandecente que eu vi do farol...
- Nave resplandecente?
- Nave resplandecente!


domingo, 12 de maio de 2013

~~Madeira~~

Exaltação à Mãe Madeira




Se chego perto de Ti e Te abraço,
se largo toda a minha dor 
e desprendo o cansaço, Te amo.
E me entrego de total maneira, 
que me doo, Te sou inteira
e penetro na Tua seiva,
vou ao fundo dentro da Terra
também ao alto galho por galho,
em cada folha, em cada inseto
e sinto cócegas das pequenas unhas
dos passarinhos, suas pegadas...
Te amo tanto que Te abençoo
e me integras na comunhão,
no dia a dia, cada estação...
E se hibernas soltando folhas 
por natureza de proteção
eu Te abraço com meu olhar
e admiro o Teu contorno ponto por ponto,
o Teu contraste, a luz de fundo, Tu no luar.
Até o encontro com o vento quente
em que renasces tão gloriosa
quando Te enfeitas de muitas flores
que atraem ninhos, eu sou canção...
Depois Te adornas de muitas contas
eu viro frutos sobre o tapete da sementeira
e entre folhas de tantas folhas
despontam brotos que são de amor.
Ouço o sussurro no respirar
tua voz adentra meu coração
oxigênio, o meu silêncio, minha razão
clamo por Ti, oh Mãe Madeira
desde o início e a vida inteira
brotem Teus filhos ao Teu redor
lavas meu sangue com Teu ar puro
Teu bem maior.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

~~O Tremular ~~






A bandeira trêmula cedeu ao movimento do vento
rodopiou na fúria do furacão, semi-desprendida voou
deslisou pelo mastro, por pouco rasgou-se inteira
rompeu a costura da ordem, quase desordenada
dançou no Deus nos acuda, deu a maior bandeira.
Sacudida fez vapor no orvalho, fez brincadeira.

Amor é isso, sorver o sumo da fruta, absoluta
morder cereja e pimenta rosa, de boca gostosa
fazer fagulhar esse compromisso, abrasa, abrasa
essa ventania sopra o fogo do verso e da prosa, 
pois só a carência é o que justifica tal volúpia.
Expande amor, expande! Tens no braço, o calor.




quarta-feira, 8 de maio de 2013

~~Sujeito Composto~~



Meu amor por ti é maior na caligrafia, 
sujeito composto, onde germinamos poesia.
Maior que a questão do gosto, sexo oposto.
Sou um sopro que te inflama, bacana, 
que dá leveza à dor, ao drama.
Na doçura apresento água, sou sorte, 
sorriso no passaporte, avanço na causa nobre 
e por tê-lo assim tão distante, mantenho-me pronta 
e casta, para poder chegar mais perto, esperto.
E vou ainda adiante, torcendo para ver teu olhar,
dobrar minhas pernas na esquina, alcançar-me no saguão,
sentarmos na escadaria. Não temeria o instante e até 
lhe mostraria que o pouso também é aliado do encanto.
Teu canto é o mais belo do mundo, seria além do humano...
A revelação do momento anuncia o portão do poema,
onde roçamos a essência e voando nessa experiência afirmo: 
merecíamos um encontro. A questão é a tremedeira 
e o respeito à lua cheia. Mas vamos indo, no reino
da fantasia somos a pura alegria, quando acertamos o passo. 
Sei que irá me dizer que dançamos em descompasso, 
mas não erramos no abraço.


Imagem: Piazza di Spagna, em frente à escadaria 
da Igreja de Trinitá dei Monti. Roma. Itália.