segunda-feira, 5 de agosto de 2013

~~Cordas Vocais~~





O passarinho subiu no i
bicou no pingo que caiu
pingou, pipocou, quicou,
ficou reticente...

O passarinho cutucou
e as reticências rolaram
pingaram, diminuíram
quase sumiram, fragmentaram...

O passarinho comeu
o grão, a sementinha, o pólen
arisco do pingo, o alimento
no átomo da canção.

Dione Scarpelli

imagem: Saíra de 7 cores

Penso que essa ave comeu frutos coloridos,
de alguma árvore celeste.
Quando escrevo algo, acho que alguém já escreveu...
Bom, que seja original!...


~~Passarinho~~




O sabiá, afinadíssimo, deu a nota: 
- Tô de volta!
- Bem-te-vi, disse o Bem, de novo...

Dione Scarpelli


sábado, 3 de agosto de 2013

~~Algodão~~


Pétala de nuvem
florada de carinho
sentir o esplendor
sanar o corte do espinho...

Dione Scarpelli

imagem de Beth Costa, pelo Google.







quinta-feira, 1 de agosto de 2013

~~Contrapeso~~



Abraço o silêncio que me abraçou
e junto ao passo que me precede,
à frente em volta e no centro, vamos...
Na saída, uma folha em formato de pena.
Pena. Grudada ao chão, esticada, acena.
Algumas outras flutuam, desprendidas
das aves que arriscam voos de inverno
essas também me chamam, vamos...
O cão, afoito, a puxar forte no contrapeso.
O passeio, nossa grande aventura, promete.
Dia frio, molhado, e elas voltam em bando,
as ararinhas verdes, aos gritos, alegres,
pousam na grande árvore à nossa frente.
Silenciam enquanto se alimentam, fartura.
Aí sim, o panorama acontece na alameda:
folhas caem aos rodopios em giros fantásticos,
dezenas de mini helicópteros aterrissam
num bailado magnífico, naturalmente vivo.
Natureza morta e viva que agracia o espírito.
Momento mágico, o cão se aquieta, vivemos...
E suavemente sobre nós, caem e caem
e sobre outras plantas, nas poças, no tijolo 
na calçada, nos muros, no concreto, aos pés.
Recolho, admiro, observo, respiro, tudo novo.
A folha com coquinho integrado, contrapeso,
plana em círculos, espetáculo, que convite...
Ali está a nutrição interior, o céu, o cheiro,
as cores inibidas pelo peso das nuvens,
o som das aves, a cena, a rara espera do cão...
E Tu, a nutrir-me e a nutrir-se comigo,
pelos olhos, pelos passos, no abraço.
Estás comigo, quase não faço registros,
mas Te farei agrados, registrarei os Teus feitos
quando e enquanto quiseres. E respeito
Teu pedido de silêncio. Sei que quando
declamo para Ti, profundamente, no interior
daquele fogo infinito, é uma prataria danada...
Na volta, o risco na frente do olhar, o susto,
o voo rápido da joaninha vermelha pintada
de encontro à parede negra, único foco do sol
no dia gelado que incendiou o coração ardente.
Parece que foi agora, coração em chamas.
Silêncio não se anuncia, concordo.

Dione Scarpelli

Imagem: Araribás na USP, árvores de São Paulo,
foto de Ricardo Cardim, pelo Google