sexta-feira, 24 de agosto de 2012

~~Sétima Elegia~~

Não, não mais buscar: que seja esta, voz da madurez,
a essência do teu grito. Gritaste, em verdade,
com a pureza do pássaro quando erguido pela estação
que ascende, quase esquece que é um ser desamparado,
coração solitário lançado às alturas, na intimidade
do céu. Como ele, buscavas a amiga invisível
que te pressentisse, a silenciosa em que uma resposta
desperta, lenta, e se aquece ao ser ouvida - a companheira
ardente do teu sentimento exasperado. Oh, e a primavera
compreenderia - não há lugar ali sem ecos
da Anunciação. Primeiro, esse leve despertar
do som que interroga e que de longe envolve
num silêncio exaltador, a pura afirmação de um dia.
Depois, os degraus do voo, os degraus-apelo,
até o templo sonhado do futuro - e então os murmúrios,
as fontes que em seu jato impetuoso antecipam a queda,
num jogo promissor... E diante de si, o verão!

                                       Rainer Maria Rilke
                                       do livro: Elegias de Duíno
                                       Pequeno trecho da sétima

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

~~Condão~~



na minha imagem de sonho
onde voo um belo bailado
e caminho sobre as águas
sou ventania e tempestade
enfio o horizonte na agulha
e rabisco um novo bordado
germino umidade de oásis
respiro poemas nos astros
recolho as divinas pérolas
miçangas de areia e brilho
nessa invenção que brinco 
minha fantasia de menina
ouço uma trovoada de voz
que canta o vento que amo
na margem da linda lagoa
com flores criadas de amor
formadas da água em vapor
que sobem do banho de mar
e molham a estrela da sorte