terça-feira, 25 de junho de 2013

~~Travesseiro~~





Eu cheguei, eu e o amor.
Para viver é preciso coragem 

e abrir a passagem hipnótica do medo, 
há que lubrificar correntes com mel,
afinar elos, rasgar a farsa, dar à vida 
o que ela te dá de graça:
a chance de ser um ser de verdade,
que sabe o que faz. E quando for dormir, 
na graça de ter um travesseiro, perdoar, 
doando o teu amor pro mundo inteiro
e esperar que o teu amor te perdoe 
e te faça flutuar no repouso.
Tudo é fundado no amor, quem odeia, muito amou.
Volte, ame, perdoe. Dentro do mundo todo, 
dentro de tantos corações, bate o sentimento perfeito, 
o amor lá dentro do peito. Transbordamento vital, 
erupção interior, amor, meu cobertor!
Eu cheguei e o amor chega junto.
Encontre-se consigo comigo. Eu sou o amor.
Sou it woman, no tempo certo. Assumida.
Combater o bom combate. A verdadeira arte. 

Dione Scarpelli









segunda-feira, 24 de junho de 2013

~~Estação~~




Inverno
Um voo em cada verso
voo de inverno
verso que vem do núcleo
vai pensamento, migra
voo eterno, primavera intima,
a cada verso uma ave liberto.
Livra-me o bem-te-vi...
Coração pensamento,
coração sentimento, coração vulcão!
Finca na espreita, captando cheiros.
Erupção interior, transbordamento vital,
amor, meu cobertor!
Colho o sabor, o sumo da fruta fresca, 
e derrete em água, o gelo na beira do fogo.
Fogo do peito, fogo que lava a alma.
Imperecível, incorruptível, combustível, alimento.
Luz no nada, vulcão invisível, ardor que pulsa.


Dione Scarpelli



~~Ancestrais~~



O nome do meu bisavô era João Batista,
foi carteiro, entregava telegramas, 
sabe-se lá porque tinha aversão a padres 
e seu filho, meu avô, foi batizado às escondidas. 
Sei pouco dele mas o que sei me basta.
De raízes dos tropeiros, do chão batido, do barro pisado. 
Em retratos falados figura-se à semelhança de Abraham Lincoln,
como o filho e o neto, meu pai, que também era chamado João. 
À eles, acendo a fogueira do meu coração. 
O fogo da gratidão, do perdão, da renovação. 
Que o fogo perfume com aroma de incenso raro meus genes de formação. 
E que o mesmo fogo renove, através desses elos os novos que chegarão.
E estendo ao todo do mundo, meu desejo em afirmação: 
Eu sou o fogo agora que envolve em aurora a aura dos recém nascidos, 
em todos os lugares nos espaços amplos do nosso planeta. 
Acesa está a fogueira de São João, em cada coração. 

Dione Scarpelli


sábado, 22 de junho de 2013

~~Estradas e Bandeiras~~




Flâmulas mutantes, arte como estandarte
no sonho de ir avante entre estradas e bandeiras
avante, a bandeira brasileira!
No amor, mais que juntos, somos juntos.
Eu, tu, ele, nós, vós, eles. Ele e ela, eles e elas.
Não à violência! Não à corrupção!
Não ao som alto do funk no buzão!
Respeito ao professor!
Não ao lixo no chão! Lixo no chão? Sujou...
Quebra-quebra, depedra,
quebra vidro, derruba, pichação:
eis os filhos da corrupção,
sem cultura, na rua fez a lição
classe merrdia, cultura da televisão.
O amor é maior. Que o amor invada o íntimo, 
nas mentes e corações dos que governam 
e dos que não aceitam, que haja diálogo, a busca da concórdia!
E me dizem: O pau quebrando e você falando de amor...
O amor é a porta aberta para a liberdade, 
que homem nenhum pode fechar.
E é a saída do caos, creio e pratico.
Combater o bom combate. A verdadeira arte.

Dione Scarpelli


~~Respiração~~

.


Ao respirar o mundo, encontro você na flor.
Só o carinho no olhar basta para que estejas lá.
Amor é sentimento sem razão, basta o pulso.
E o coração é canteiro, fonte e braseiro,
lampião aceso a espalhar pelos poros
o sol que resplandece horizontes.
A palavra, broto no jardim do poema 
tem além da letra, ouvido escutador do silêncio,
solo fecundo, tem olho que enxerga no escuro,
que capta luz no abismo, enxerto e adubo.
Vida espetáculo, do camarote assisto.
Esplendor, do teu tecido me visto.
Sim, passei por aqui, entre lírios e jasmins,
nos caminhos que desvendam montes
o mistério me sorri, acena o oxigênio em flor.
Coração pensamento, coração sentimento,
coração que respirocoração vulcão! 

Dione Scarpelli


sexta-feira, 21 de junho de 2013

~~Oração~~




Meu Amado, fogo sagrado
minha alegria, eu te amo.
Meu Irmão te chamou de Pai
posso te chamar de Amado?
Amo teu riso, meu abrigo,
subo por ti como um macaquinho
sobe numa palmeira,
brinco contigo como uma criança,
pouso como uma corujinha
em tua folhagem,
voo por sobre abismos
em pluma de coragem
em minha vertigem, minha viagem
és meu Império, meu Reino
onde passeio, amado braseiro.
Aumenta em mim Teu sabor.
Meu luzeiro, unida a ti, somos.
Sou toda tua, te multiplico, meu amor.
Me abençoa enquanto te abençoo.
Sou tua mensageira em flor.

Dione Scarpelli

Imagem via Google, do http://floradaserra.blogspot.com.br

quarta-feira, 19 de junho de 2013

~~Dança de Roda~~



Lembro-me de ter lido, não sei bem quando,
num livro espírita, sobre um orador, um mestre evoluído, 
que quando falava, numa arena ao ar livre, 
caíam pétalas sobre todos e ao redor, como uma chuva mesmo,
pétalas que traziam um aroma delicado 
e desapareciam ao tocar os seres, ao tocar no chão. 
Pétalas de energia, em forma de pétalas transcendentais...
Teus florais são como pétalas transcendentais.
Parecem um arsenal de afago e contém beliscões 
entre beijos e carícias. A malícia diluída na poção, 
o perigo entre delícias. E caem em mim como orvalho manso, 
uma espécie de descanso, entre rizo e gozo de amor. 
Recebo, e quando lembro do frio nos pés, 
vem o fogo que transforma. Já deitou em noites muito geladas, 
repleto de roupa e durante o sono, retirou peça por peça, 
porque o calor se instalou? Pés quentes, coração quente.
Não se trata de ganhar ou perder, mas viver, 
não temos mais tempo para a dor,  veja, 
se me encanto com flores minúsculas róseas quase translúcidas 
que desprendem das palmeiras, pelo vento ou pelas pegadas das aves, 
porque me apegaria em desafetos? É só dar uma volta, 
e tudo em volta me nutre, a arte espontânea que a vida oferece, 
um rabisco no chão, no gesto natural da comunhão existencial.
Não quero me perder, levei sabe-se lá quantas vidas para me encontrar. 
Me entrego ao amor, essa chama regeneradora que consome a dor. 
A chama perfeita. O amor já arde por si, o ardor que impulsiona, renova. 
Lembro de uma dinâmica que fizemos na juventude, quando fazia coral. 
Em roda, roda gigante, umas quarenta pessoas ou mais. 
Tínhamos que dizer nossos nomes num ritmo 
e todos repetiriam, numa apresentação cheia de graça. 
Ao chegar a minha vez, eu me chamei, como se estivesse bem longe, 
num grito incapaz de não ser ouvido. Como se eu estivesse no alto de uma montanha, fez-se um eco. E todos chamaram, todos ecoaram e eu ouvi.
Agora estou aqui. E sou essa fortaleza oculta, e me alimento de amor,
numa troca infinita, numa doação sem medida. Íntima e divina.
Assim eu te ouço, te abraço com jeito e passeio pela tua circulação
como passeia na minha; em células transcendentais, pura energia do amor, 
que não se explica, se sente. Fluímos entre corpo e essência.

Dione Scarpelli


Imagem: Dança de Roda, de Guignard, 1959


terça-feira, 18 de junho de 2013

~~Sinais~~








- Demoras...
- Te falei sobre a pg.
- Eu sinto, mas quero ouvir.
- Tenho removido pedras.
- Estou contigo.
- Em muitos sotaques.
- Vou desistir.
- Fica.
- Volta.

Nós,
no farol
do mirante
cada qual, em seu horizonte...

Nus,
paralelos
sinalizamos,
e na distância, voamos...

Dione Scarpelli



~~Paz no Inferno~~





A senhorinha com a sacolinha, cansada
dentro do lotação, paciente, rezava
"andei demais, agora só quero paz", dizia
sentada com sua cruz, envolta na própria luz.

Estendi a bandeira da paz, invisível
atravessamos a multidão, incontável
desfilamos nossa intenção, incógnitas
o céu permitiu, a lua assistiu, impassível.

No silêncio das alamedas, eu e elas
a lua, a bandeira branca e a senhora
tomou mais um chá, o chá de cadeira
chegará em casa fora da hora, à zero hora...

descemos na raça a Consolação, consoladas.


Dione Scarpelli

segunda-feira, 17 de junho de 2013

~~Seu Jorge~~



 


Igualzinho ao Seu Jorge, porém na rua,
lá vai o Seu Jorge, o negro de rua.
Alto, belo, sujo, roto, fedido.
É o negro que se arrasta pelo bairro,
chamo-o de Seu Jorge. 
Lá vai o Seu Jorge com seu cobertor
ambos se arrastam pelo chão.
Mudo, catando bituca, olhar perdido.
Na camisa surrada, a frase:
"Tudo é questão de escolha",
camisa rasgada, sem letra, sem nada.
Abordei-o, chamei-o de Seu Jorge,
ele cuspiu, mas sei que ouviu...
Zumbi derrotado, quero vê-lo de pé!
Salve Jorge, que São Jorge te salve!

Dione Scarpelli


Imagem: São Jorge e o Dragão,
pintura de Rafael, Museu do Louvre, Paris

~~Parada Gay~~





Lá vai a caravana gay
vitoriosa em número e conquistas,
passa o trio elétrico e o canto 
leva celebridades, presenças de palco,
leva, e no entanto é cega
à derrota que rola na pista,
no chão da Avenida Paulista.
Lá embaixo, o álcool devorador
consome fígados no asfalto,
o fígado periférico e o central.
Lá vai o trio, os pneus deslizam
sobre a urina fétida onde pisa a festa.
E lá, no canto escuro do parque
chora o garoto vitimizado, violentado.
O crack consome, consome e some.
O Museu estava de olhos fechados, 
deixe-me surdo, deixe-me em paz! Mudo.
No domingo úmido, o tímido sodomizado.
Canta o externo, canta, mas a luta é maior
há que se observar a vida por dentro,
na aparente alegria, há um enorme lamento.
Haja arco-íris, aja no mundo interior! 
Cantam hinos, Paula e Bebeto tremulam...
Ainda há muito o que se conquistar...
Será plena a vitória quando se olhar ao redor,
poder vislumbrá-lo limpo, não limbo.
Haja arco-íris no íntimo, na verdade de cada flor.

Dione Scarpelli

A foto é do jornal O Globo, via Google.



domingo, 16 de junho de 2013

~~Riso~~





Recebi o texto abaixo de uma amiga, contadora de histórias em hospitais infantis,
transcrevo:

A xícara do menino curioso
Ikio era discípulo de um monge budista.
Certo dia, o monge mostrou-lhe uma xícara, numa prateleira e disse:
- Nunca mexa nesta xícara, pois ela é muito antiga e valiosa para mim!
Assim que o monge se afastou, o menino pegou a xícara e esta caiu no chão, em muitos pedacinhos! Ele rapidamente juntou os cacos e logo ouviu os passos do mestre, que retornava. Com os cacos nas mãos, escondeu-as nas costas, perguntando ao monge:
- Mestre, por que existe a morte?
O monge se alegrou com a pergunta, pois era a primeira vez que Ikio demonstrava interesse pela essência da vida. ,. E respondeu, satisfeito:
- Bem, meu filho, tudo que faz parte da Natureza nascecresce, se modifica e um dia morre, se acaba. É a lei natural da vida!
O menino estendeu-lhe as mãos, mostrando os pedaços da xícara e disse:
- Então, mestre, creio que a "lei natural da vida" acaba de ser cumprida com a sua xícara!
O mestre, a princípio se aborreceu; mas em seguida refletiu e voltou a sorrir, pois concluiu que ele, o próprio mestre, é quem acabava de aprender uma lição essencial: o desapego.



Meditando sobre a história, inspirei-me num pequeno poema e minha esperança no futuro:


Riso

Não colherão mais lágrimas
quebrada a louça
recolham-se os cacos
ou façam mosaicos...
No desapego, o riso
e na memória, a louça intacta.

Dione Scarpelli

sábado, 15 de junho de 2013

~~Lembranças~~





Lembre-se agora
das estrelas que lançastes ao céu
perto da zero hora, 
quando unidas aos fogos de artifício
enfeitaram o ar na luz do teu ofício
e te arrepiaram de felicidade
que até parecia que estavas no céu...

Guarde as belas lembranças 
pois são nutrientes a levar a vida
em todo momento, no ar em movimento
brilhando estarão, acima das nuvens
na chuva desprendendo brilhos,
o maná, no voo ou no pouso, 
na festa ou no repouso e na paz do silêncio...

Dione Scarpelli


~~Semente de Amor~~





Pode ser que minha palavra te vista
como te veste a água quando te banhas,
e sentes o líquido na linha do contorno;
ou no beber a lhe refrescar por dentro
e se mergulhar, no envolvimento em torno.
Pode ser que a palavra te dispa, ela e tu,
ou te encontre nu, e como uma brisa morna
que suavemente contorna te acalore o corpo
como uma carícia maternal, sumo do seio farto.
Pode ser que não a ouça ou até que desdenhe
ou que se esconda, pode ser que uma onda a apague
ou o movimentar desenhe um rabisco minúsculo
e sob tuas pegadas apressadas, quem sabe,
se fixe um resíduo ínfimo, do sentimento imenso
e deixe impregnado, o pólen consagrado,
a semente penetrante da palavra amor.

Dione Scarpelli

Imagem: Morro de São Paulo, Bahia, Brasil
Praia da Gamboa, conhecida como Praia da Argila.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

~~O que você faz com o seu Amor?~~






O que você faz com o seu Amor?
Eu sinto muito, sentiu a sentimental.
Multiplico, calculou a matemática.
Sonho na pintura, desenhou o pincel.
Canto emocionado, solou o tenor.
Tamborilo meu tamborim, batucou o ritmista.
Documento, publicou o jornalista.
Amor intelectual é tese.
Amor não é teoria, é sentimento.
Amor não pensa, sente.
O cara é o cara e eu sou eu.
Respeito muitas citações e faço as minhas.
Pode continuar, disse a mulher que passava, 
causando silêncio no espaço...

Deixo galhos de louro, para aromatizar o domingo.
Eu já vou e levo no meu andar o amor.

Dione Scarpelli



~~Santo Antonio e os Peixes~~





Achava-se um dia Santo Antonio na cidade de Rimini, na Romanha, procurando um meio de levar a Deus as multidões que as paixões desgarravam. Implorou a proteção do criador e fez sinal ao povo para segui-lo à praia e conduziu-o à embocadura do rio Marecchia. Aí, voltando-se para o Adriático, clamou em alta voz: "Peixes do rio, peixes do mar, ouvi. Quero anunciar-vos a palavra de Deus, uma vez que os heréticos recusam ouvi-la". À sua voz, as ondas agitaram-se; inúmeras tribos desses habitantes, que povoam o mar,correram para aquele que os tinha chamado. "Meus irmãos peixes, disse-lhes o taumaturgo, deveis ao Criador um reconhecimento sem medida. Foi ele que vos designou para morada esses imensos reservatórios. Foi ele que vos deu essa casa nas profundezas das águas, para refúgio na tempestade; deu-vos nadadeiras para irdes aonde quiserdes e vos forneceu a comida de cada dia. Criando-vos, ordenou crescerdes e multiplicar-vos e abençoou-vos. No diluvio universal, enquanto os outros animais pereciam nas águas, conservou-vos. Fez-vos a honra de escolher-vos para salvar o profeta Jonas, fornecer o tributo ao Filho do homem e servir-lhe de alimento antes e depois da sua ressurreição. Louvai e bendizei ao Senhor, que vos favoreceu entre todos os seres da criação". Atentos, como se fossem dotados de inteligência, os peixes testemunhavam por movimentos que tinham prazer em ouvir o Santo e queriam dar a Deus o mudo tributo de suas adorações. "Vede, exclamou Santo Antonio, voltando-se para os heréticos, admirai como criaturas privadas da razão ouvem a palavra de Deus com mais docilidade que os homens criados à sua imagem e semelhança!"

Texto extraído do devocionário à Santo Antonio 
por frei Hugo D. Baggio, editora Vozes 
Imagem: Sermão de Santo Antonio aos Peixes.
Pintura de Gregório Lopes, pintor português.




~~Adotiva~~






Foi pela vitrine que a vi, na penumbra da loja,
o traço da silhueta escura, semi-curva, única.
O traje da presença a veste
com o tecido da elegância. Força íntima, 
imperceptível a primeira vista, mas eu vi, 
energia generosa, imã que atrai...
Muda, envolta na névoa do saber, matriz,
luz além da aparência, sem pose, nem gênero, 
autêntica, rara, plena em seu sossego...
Mínima em excesso, máxima na unidade,
de gestual frugal, original, eu a abraço
e me acolho, amor em laço transcendental,
e ouço o mantra do templo, na voz do silêncio 
o canto da minha avó oriental.

Dione Scarpelli

Trouxe à tona o verso do Vietnã:
"Eu cheguei, tenho aqui no agora o meu lar.
Eu sou firme. Eu sou livre. Eu habito no absoluto."
Thich Nhat Hanh 

Imagem: Bambus de Silvio Schuh


quarta-feira, 12 de junho de 2013

~~Amizade~~





Sou fácil de fazer amigos
fiz amizade com o tempo
quando corria demais
fiz-me amiga do vento
quando me empurrou para trás
sou companheira do rio
no frio, aqueço o frio
no calor, faço frescor
procuro me manter no meio
quero levar os meus laços 
para longe, o tempo inteiro.


DioneScarpelli


segunda-feira, 10 de junho de 2013

sábado, 8 de junho de 2013

~~Ideias~~





Onde estávamos mesmo? Desnorteei-me nos teus olhos.
Falávamos sobre o relevo e alisávamos musgos,
na maciez do veludo, piscou um sussurro fundo.
Que lindo o contorno da tua sombra, 
remete ao impacto do infinito...
A verdade é que estávamos tão mudos que dava
para ouvir o badalar do peito.
Te trouxe sinos, falou baixinho.
E ganhas mimos, girou vagarosa e ofertou um bilhete:

"No jardim do meu segredo
há uma frondosa árvore
próxima aos pés dum rochedo
onde aves de muitas cores
cantam seus cantos de amores:
as primaveras de sentimentos
e as folhas elevam os sonhos
ao desprenderem água
para sugar pela terra
pegadas impregnadas de ideias."

Tenho uma ideia, segurou-lhe pela cintura,
cavaram um pequeno buraco,
beijaram o papel dobrado
e semearam o encanto.
Gostas do corpo-a-corpo, disse o Batman.
Miau! Miou a mulher gato no passo ronronante.

Dione Scarpelli







sexta-feira, 7 de junho de 2013

~~Tapeçaria~~




Basta que eu me ausente um pouco 
e remontas a fantasia do calabouço, 
com paredes estreladas.

Entraram pela janela, as sílabas 
balbuciadas no escuro, vieram 
no movimento e na voz da estação.

Entregue o novelo à felina, trouxe outros, 
novas cores, fui buscar na longitude,
na linha do meridiano, para arejar o ponto.


Farei um patch work com as folhas
montarei um poema de tapeçaria.

Componho adornos na clausura.
Não há grilhões para quem é livre.

Dione Scarpelli


Imagem: Tulip Stairs, Queen's House, Greenwich, Englan



~~Capítulos~~




Temos boa memória: 
cabelos revirados, papeis rasgados, 
coração na mão, beijo fundado em ficção, 
tropeços, viagens, valsa, sonho de valsa,
ramalhete, bilhete, briga, bagagem perdida,
cavalaria, caravana,voo rasante no Grand Canyon...

Nem bem me distraí com a paisagem e mergulhou fundo,
você e a mania de buscar tesouros submersos...

Fui ali, na morada das joaninhas.

Depois da rega, saem elas desalinhadas, 
na procura do prumo, esbanjando beleza.
Natureza, meu amor se espalha no teu meio.

Faço reciclagem, recolho flores de plástico
e devolvo pétalas de camurça, de aroma inebriante,
eternas, direto do meu infinito de possibilidades.

Saio para um passeio e no regresso descubro 
abismos por todos os lados, teu recreio.

Arrisca a busca da emoção na beira, 
certamente encontrará, 
estarei à espera do outro lado, 
não tenho pressa, nem inventei o tempo.

Em cada ribanceira, um breve discurso do gato do mal.

Dione Scarpelli


Imagem: Grand Canyon, USA