Ontem caminhei pelo centro da cidade onde nasci e vivo, São Paulo. Atravessei o viaduto Santa Ifigênia, segurei nas grades de proteção, que são de ferro e apreciei a obra, o peso da obra e tudo ao redor. Abaixo, árvores e esculturas espalhadas pelas imensas praças do Vale do Anhangabaú e lá no final, a Igreja do Mosteiro de São Bento, magnífica. Se não fosse a imperfeição que acompanha as pessoas, seria um céu. Um dos céus. Admiro a concepção elevada, é assim minha percepção do céu. Espaços onde só se formulem pensamentos, idéias e criações altruístas. Mas a maioria das pessoas passam por ali alheias à essa possibilidade. Passam bêbados e comerciantes, pessoas que vão comprar e revender e nem notam o esplendor do cenário. Ambulantes, drogados, mendigos. Apenas os turistas arriscam essa visão. Entro na Igreja, vou abençoar o novo Papa na minha humilde oração. Jogo água benta no rosto, lá dentro está escuro. No vitral acima do altar, a luz do entardecer. Tenho um amor profundo pelos santos, sinto a força da entrega ao amor divino. Talvez eu tenha sido um dos peixes que ouviu Santo Antonio, ou um pássaro ao redor de São Francisco. Talvez a ave que comeu o peixe e penso na grandiosidade desse sentimento. Assim eu oro. Imploro. Pelo meu céu aqui mesmo na Terra. Lanço perfeição sobre os imperfeitos nessa esperança sem fim. Passo pensando (vejo a perfeição aí). Lanço assim o meu afeto no mundo de concreto. E um movimento sobre o belo centro. Choveu mansinho no meu infinito. Como seria bonito se todos que andassem ali, olhassem para a beleza e se inspirassem em pensamentos sublimes para realizar, construir, desfrutar, descobrir, evoluir...Talvez escutaríamos canções ou músicos a estudar e encontraríamos cavaletes, elegância, fragrância. A vida social integrada ao panorâmico espaço. O céu não é assim tão impossível. Vou fazendo o que posso e não afundo no fosso.
Foto do Viaduto Santa Ifigênia com visão para o Mosteiro de São Bento
foto de: Rafael Camargo
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