Quando ela engatinhava, achou um pedaço de linha caído no chão. Parou, sentou e analisou, daquela maneira infantil. Mexeu, esticou, lambeu, provou mas não engoliu, prosseguiu. Na volta ele estava lá, o fio. Sentada com as suas pequenas dobras, pegou o fiapo de linha molhado e entregou para a vovó. A senhora trabalhava com aquilo, costurava e cortava, pregava, emendava, bordava. Usava o tesourão que foi do avô, alfaiate, e deslizava no corte de curvas e retas. A bebê no meio daquilo provava, experimentava. Lantejoula não era tão ruim, e deixava na fralda vestígios de cores e brilhos...Assim ela foi crescendo em intimidade com as linhas, pisava por cima dos traços para brincar com as formas. Na rua, no limite da calçada, nas guias equilibrava, abria os braços e ia. Nos muros fazia jornada, adorava. Brincava de equilibrista. Quantos, tantos muros e mil léguas. Quanto mais longo melhor. Alto, baixo, largo e mais fino. Estampas de tapetes. Monumentos e nos coretos das praças. Tudo por onde passava achava uma linha e andava... - Não pode pisar no preto, brincavam. - Não pode pisar na linha! E continuava. Também subia em árvores e contornava com as mãos. Os galhos, as folhas, as frutas, as lagartas. E quando ela viu o mar, quando ela viu um navio chegar... Ela avistou o horizonte e contemplou a infinita porém inevitável possibilidade. A linha do horizonte, a borda da Terra no mar.
Impossível não se deixar levar, espaço aberto... Depois a lua fez um rastro no mar e estendeu um caminho iluminado. Foi assim que ela arriscou... Agora ela vai quando quer. E aonde quer. E na linha que imaginar, haverá de caminhar.
Impossível não se deixar levar, espaço aberto... Depois a lua fez um rastro no mar e estendeu um caminho iluminado. Foi assim que ela arriscou... Agora ela vai quando quer. E aonde quer. E na linha que imaginar, haverá de caminhar.
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