sábado, 4 de maio de 2013

~~Jovem Cruel~~



Onde o senhor estava Sr. General? 
No dia em que o bebê nasceu, o pai desapareceu.
Porque o senhor me esqueceu? Me deixou de lado,
como se eu fosse um simples soldado, quis atuar sozinho,
pobre menino, quem o criou? O que ele virou?
Porque não me chamou e procurou ajuda?

Por onde você andou, caro governador
quando a criança entrou na escola e
não havia professor? Estava pedindo esmola?
Havia uma parede cinza, sem arte, sem estandarte,
um muro rachado, uma cerca rompida, a rua convida,
a fenda se alarga e a criança escapa com vida.
Em que ilha você enlatou a escola da filha da mãe,
do filho da filha e do neto que vaga madrugada na rua?
Porque não me procurou? Fez uma oração preguiçosa,
jamais entenderia a voz da chama pequena, subdesenvolvida...

Onde estava a tua mão, ilustre apresentador?
Homem por trás da batina, o que você fez com a menina?
Como deixou-a no chão? Como não lembrou de mim?
Antes de ficar assim, antes, bem antes? Antes da confusão?
Porque então não confiou, o que fiz que você se afastou?
Não te obriguei a nada, teu corpo respira, teu sangue circula
Como não me vê na criança, acende essa tua lembrança!

E você capitão, onde estava teu pai quando você ganhou o asfalto 
e partiu pro seu primeiro assalto? Ninguém te falou de mim?
Não me viu na sua mãe? Me viu na fome? No tênis que já rasgou?
Na vida que desperdiçou? Na droga que contamina? 
Sou a mina e não me procuras, volte, venha volte!
Onde vive a tua avó? Talvez ela me conheça,
sinta-me dentro do peito, não me esqueça, chame!

Homem, porque bebe tanto e sai do seu centro?
Beba mas não me esqueça, não me enfraqueça
eu preciso que você atue comigo, quero união!
Enquanto você gritava gol, ele me degolava,
grite gol mas também grite meu nome! Todo dia!
Aqueça teu coração, me aqueça...Me chame, me ame...
Porque quando acorda não busca por mim?
Eu te inspirarei e o dia será melhor, pare um pouco
chega bem perto de mim, diga que me ama, no teu silêncio.

E você juiz? Verás o reformatório? Me farás uma visita,
terei direito de réu? Será que terei saída? Serei integrado,
serei pra sempre infeliz? Minha mãe era meretriz, bebia, vadia,
andava por um triz, me largava pela rua, na biqueira,
no alto da ribanceira achei que podia sorrir, mas 
o que aprendi foi ferir...Por isso te peguei de jeito
agora o estrago foi feito, só me farão vistoria, que fria.
Quem defenderá a voz muda que foi desnuda e achada
no matagal? Morta não baterá na tua porta...

Fizeram tudo sozinhos, não sabiam que tinham abrigo.
Nem notaram que estou por dentro, a todo o momento.
Enquanto você respira, eu espero. Eu fico esperando.
Quem foi que inventou o conflito? Onde estavas na hora
do grito, porque não gritas por mim? Eu virei em teu socorro.
Eu venho, estou de novo e posso te por no alto.
Na minha extrema bondade, num sopro de misericórdia,
levar o mundo à Concórdia! Me chame, me ame!
Ateu, sou teu, a voz que te fala no fundo, com eloquência
a voz algoz da justiça, a fala da consciência...



Imagem: Paz e Concórdia, Pedro Américo de Figueiredo e Mello,
                  acervo do MASP






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