quinta-feira, 16 de maio de 2013

~~A Missiva~~




Ai, como dói uma carta de adeus!
E como revivi os ais meus...
Já era meio-dia quando entrei na livraria
para refrigerar a alma, fui ganhar a pausa.
Filtrar do mar da poesia, fazer destilação.
Peguei o livro acessível, aquele que estava à mão,
era um livro dela, Florbela e abri aleatoriamente.
Eis que me vem ao presente, a triste carta de adeus.
Veio de lá, tão distante e fez-me naquele instante 
um rasgo tremendo no íntimo
pois abriu o que estava fechado,
o tema que tanto evito, ali tão bem escrito,
a voz do coração contrito, explícito...
A dor, vazando pelo papel, inundando a loja
a fictícia tempestade, a tormenta que arrebenta.
Era ela e eu. A tormenta e eu. Doeu o presságio,
não pude conter a explosão, chorei.
Por sorte estava semi-vazia, a livraria.
E fiquei ali um tempo, desprendendo o sentimento.
A invasão no profundo, a comoção.
Há limite para o amor? Não, nem a morte, 
nem o tempo encerra. Nem a cova na terra.
No fundo o amor te aborda em cheio
e dentro do imenso caloroso abraço, 
(mesmo se passar ao redor o sopro gélido, ártico)
ele te resguarda na envolvência, tal delícia.
E mostra o que tem de bonito
se esparrama, não traz a tristeza seca
e sim a emoção autêntica, genuína.
Vem amor comovido, tudo em ti faz sentido.
Preparou-me na luz do dia, pronta eu estava à noite.



Imagem: O livro que folheei.

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