Sob nosso olhar, fotografamos.
Nossa câmera íntima resguarda
a delícia da lembrança gravada
a pura visão, até debaixo d'água.
Momentos eternos, permanentes
registros fora do papel, na aquarela
do acervo dourado, além do aparente
instantes com trilha sonora e cheiro.
A água, a foto da água que escorria,
a roupa molhada da dama que estendia,
alva e alva, na qual se nadava, límpida
o olhar pela luz onde se mergulhava.
O encontro do olhar, o pulso vivo
a troca de risos, o sombreado na brisa
a visão de lado, a submersão profunda
a imagem trêmula envolta em lágrima.
Nada pendurado no painel, só sonho
nem estampado no álbum, culto recolhido
talvez no pincel, na obra de um gênio
a pureza no traço dum esboço atrevido.
Mas na canção do poema pode se ver
o retrato se revela, uma flâmula flutua
nele se traduz a essência entranhada
a moldura envolta em sentimento, nua.
Dione Scarpelli
Imagem: Studium 32, www.studium.iar.unicamp.br
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