Daqui do alto do amplo rochedo
rolo camuflada nessa roupa de pedra,
assisto o esplendor da lua a rasgar
com seu brilho o tecido acolchoado
e a causar impressão que vive...
Daqui, exaurida da luta de esgrima
quase derrotada de olhos vendados,
eu, versus o exército microscópico,
clamo e imploro, verto sangue,
choro pelo estilhaço e o prego,
o grito, choro pelo conflito,
e a dor do desencanto, derramo
todo o pranto do corte, o sangue
que escorre da morte, a face
azul oculta absoluta do rochedo.
Daqui rodopio e ajoelho,
me encolho e me esparramo,
me banho na seiva desprendida
da madeira e no desprezo pelo
crescimento lento, vejo o movimento
que roda, lua magnífica rodeada
de estrelas na noite linda que nada sente.
E lá, sozinho, cai o menino sobre o solo
exausto e sujo de tanta ausência e droga,
ele se afoga junto comigo, sangue e castigo,
arrasta um pano e eu, que tanto amo,
choro pelo que não posso...
E rolam os gritos do fogaréu,
enquanto caem as lajotas em blocos
que desmoronam sangue e pó.
E não e só. Há muito o que chorar.
Tinjo a imensa pedra mas também a lavo.
E rolo rochedo abaixo como lava que já fui
e lavando vou em água, no soro
desprendo a tinta da dor,
vou pelos vales, avanço selvagem,
com força e coragem a caminho do oceano.
Misturada aos campos do mundo,
ora rasa, ora no fundo,
sigo com o canto profundo, clamor
e lamento, silêncio esperança.
E quando descambo num prado sereno
desperto ao ouvir o canto da ave amarela
e um novo grito de voo verde, numa brisa
suave de macio azul. Quando a luz mansa
me aquece e alcança, vislumbro a nova criança
que corre em alegria simplesmente livre
apenas por viver a água que vem pela
rocha e dá vigor à flor que veste o campo
e perfuma o gramado de orvalho fresco.
A menina se arruma e lava a fronte
na luz dourada, raiou o dia.
Ha tanto para se amar, muito por seguir.
Choro ouro e banho em louro o pó
do trigo que prepara o pão.
E contemplo a pedra que brilha,
leito e altar, límpida feito o luar.
Imagem da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil
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