num livro espírita, sobre um orador, um mestre evoluído,
que quando falava, numa arena ao ar livre,
caíam pétalas sobre todos e ao redor, como uma chuva mesmo,
pétalas que traziam um aroma delicado
e desapareciam ao tocar os seres, ao tocar no chão.
Pétalas de energia, em forma de pétalas transcendentais...
Teus florais são como pétalas transcendentais.
Parecem um arsenal de afago e contém beliscões
entre beijos e carícias. A malícia diluída na poção,
o perigo entre delícias. E caem em mim como orvalho manso,
uma espécie de descanso, entre rizo e gozo de amor.
Recebo, e quando lembro do frio nos pés,
vem o fogo que transforma. Já deitou em noites muito geladas,
repleto de roupa e durante o sono, retirou peça por peça,
porque o calor se instalou? Pés quentes, coração quente.
Não se trata de ganhar ou perder, mas viver,
não temos mais tempo para a dor, veja,
se me encanto com flores minúsculas róseas quase translúcidas
que desprendem das palmeiras, pelo vento ou pelas pegadas das aves,
porque me apegaria em desafetos? É só dar uma volta,
e tudo em volta me nutre, a arte espontânea que a vida oferece,
um rabisco no chão, no gesto natural da comunhão existencial.
Não quero me perder, levei sabe-se lá quantas vidas para me encontrar.
Me entrego ao amor, essa chama regeneradora que consome a dor.
A chama perfeita. O amor já arde por si, o ardor que impulsiona, renova.
Lembro de uma dinâmica que fizemos na juventude, quando fazia coral.
Em roda, roda gigante, umas quarenta pessoas ou mais.
Tínhamos que dizer nossos nomes num ritmo
e todos repetiriam, numa apresentação cheia de graça.
Ao chegar a minha vez, eu me chamei, como se estivesse bem longe,
num grito incapaz de não ser ouvido. Como se eu estivesse no alto de uma montanha, fez-se um eco. E todos chamaram, todos ecoaram e eu ouvi.
Agora estou aqui. E sou essa fortaleza oculta, e me alimento de amor,
numa troca infinita, numa doação sem medida. Íntima e divina.
Assim eu te ouço, te abraço com jeito e passeio pela tua circulação
como passeia na minha; em células transcendentais, pura energia do amor,
que não se explica, se sente. Fluímos entre corpo e essência.
Dione Scarpelli
Imagem: Dança de Roda, de Guignard, 1959
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