Foi uma noite sombria, aquela da última lua, noite de céu escuro e muito vento. Ela (a lua) estava escondida mas a força da ventania arrancou-lhe as nuvens e num rápido instante mostrou o seu brilho intenso. Livre estava sozinha na avenida e quando raiou o clarão, lembrou dum verso do poeta Garcia Lorca que fazia referência a um peixe na lua. Alguns versos mágicos nos proporcionam infinitos significados...Num segundo o céu virou um rio claro, muito claro e a noite escura desapareceu no breu. E no movimento do rio, Livre mergulhou entre carpas e deixou-se levar pela correnteza. Vagou nas águas com um profundo sentimento de afeto e saudade e notou que o rio seguia em movimento calmo, silencioso e a noite mostrava a lua inteira, magnífica na água verde clara, muito acesa e transparente. Foi quando ela percebeu a enorme flor, no centro da lagoa onde o rio a levou e apreciou o movimentar das pétalas, uma a uma, lentamente, como se despertassem...Sentia-se fora do tempo e do espaço e envolvida num aroma incomum. No núcleo da flor, uma luminosidade de pérola, uma outra lua surgia. Livre cantou uma canção:
noite clara, clara sou
sente sede, meu amor?
linda lua, água pura
levo gotas com sabor
Seu coração radiava uma emoção divina, como que o amor do mundo inteiro. Livre sabia que estava perto de vislumbrar seu encontro, o motivo da sua busca mas adormeceu no solo. Nasceu o dia, ela encheu o cantil e subitamente sentiu sob seus pés o tamanho gigante do planeta azul, quando abriu os olhos estava na cama e ouviu a música da manhã...
Coloco água na tua boca,
que invade cada célula
e deixa tudo tão leve
e deixa tudo tão leve
leve como a esperança
água que bebo também.
água que bebo também.
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