Ela vem como uma malha negra
fina e aderente, enquanto as mães tecem...
E chega como uma gaze adesiva
grudenta e escura e simplesmente pega.
Anexa-se, sentindo-se perpétua
mas esquece, cega pela intenção,
que nos entremeios da densa escuridão,
há poros que escapam, há vazão
entre as pequenas tramas
abrem-se mínimos focos de luz.
E mesmo que venha como gigantesca
sombra, a fazer pressão para apavorar,
desça, pode chegar. Quer conversar.
Teia sinistra, o que quer de mim?
Não há o que possa levar...
O que tenho não poderá ocultar.
Aqui, terá que solver o nefasto véu.
Aqui, pode destilar veneno,
a mínima poção virará vacina,
será remédio para a tua sina.
Chega, chega mais.
Estará frente á frente com a coragem
aos poucos ficará pequena,
leve, e seguirá viagem, voará
na velocidade da luz pelas tuas frestas
verá o que é porta aberta,
as janelas emperradas aguardam
pelo fogo lubrificante, o óleo sobre a ferrugem.
Venha, e saberá o que é unguento.
Venha e verá clarear o teu movimento.
Aqui, fel é mel.
Dione Scarpelli
Imagem: Arte de Leandro Erlich
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