Ele chorava muito. Muito e tanto que incomodava, ele berrava.
Perdi a concentração, parei o que estava fazendo e fui vê-lo.
Eu poderia apenas ter olhado em seus olhinhos puxados e expressado
o meu amor pelo olhar mas ele não parava de chorar, as lágrimas
impediam o real contato e a intensidade da transmissão do afeto.
Não era fome, nem sono, estava no colo de outra "tia", limpinho.
Resolvi consultar minha valise e encontrei meu livreto de latim.
O latim oriental, mais especificamente japonês. Latim japonês.
E comecei: - Orraiô! (Bom dia) Com voz de ling-ling misturada
à voz de mãe. Continuei: - Comer gohan? (arroz), - Sushi?
- Com rashi? (pauzinhos para comer), cadê batchan? (vovozinha)
E já era o choro...Lá estava o riso com cabelo arrepiado e mãozinha
gorduchinha, com furinhos. Uma das coisa mais lindas deste mundo
são as mãozinhas dos bebês. Peguei-o no colo e saímos cantando
pelo jardim da escola (que também era berçário).
"Urashimataaaaru, um pobre pescador,
salvou uma tartaruga..."
Falei com ele com sotaque, o som do amor, o Latim da centelha.