sábado, 29 de dezembro de 2012

~~Prenda de Pena~~


Mandei outra pena pra ela, quase desiste de novo. Agora, foi do meu amigo Sabiá Laranjeira, lançou uma com toques dourados, irresistíveis... Quando ela pensa em parar, acha uma peninha no chão dizendo: -Continua! Ela adora receber prendas do acaso. Sou o melhor amigo dela, uma espécie de sombra invisível, outro dia por acaso voei na  sua frente bem na hora que o sol acendeu! Foi um flagrante imperdoável, ela ficou deslumbrada pois modéstia à parte, quando o sol bate nas minhas penas brancas, não tem pra ninguém, é obra de arte; verdadeira arte, viva, ativa, captação de suspiro, una, fração de segundo de liberação do cosmo profundo, momento mágico, penetração de divindade... Achou a pena e recolheu.
Nina atravessou a ladeira, ouviu um movimento no terreno baldio, seriam as meninas brincando? No topo da ladeira, em frente a casa dela havia aquele terreno, cheio de pedras e relevo acidentado. Tinha inclinações interessantes, pés de mamona, mato, madeira, brincadeira, hora da fogueira, esconde-esconde. Eu sempre assisto os movimentos da menina, é minha missão guardá-la. Naquela manhã Nina encontrou um cenário diferente. No seu terreno baldio muitos cabritos pastavam...atados por nós em cordas, presos em alguns galhos na única árvore que existia no terreno, a árvore dela. Como pode? Lindos, silvestres, ela nunca tinha visto, tinham algumas fêmeas pois possuíam tetas enormes e também uns filhotinhos, próximos às mamães. Ah! A menina vibrou...de onde vieram tantos? Contou enquanto aproximava-se devagar...Dez, dez perfeitos cabritinhos. Marrons, mesclados, brancos e café com leite. Ia começar a nomeá-los quando o homem chegou, com um chicote na mão, junto veio o Gabriel, o menino vizinho. -Cuidado menina! Disse o homem. A mamãe é brava, fica protegendo o filhote! Continuou. -Vocês sabem quem é o dono do terreno? Preciso deixar os bichos num pasto até poder viajar, daqui uma semana! Nina gostou da notícia e logo se adiantou: -É meu, o terreno é meu e aquela árvore é minha, mas pode deixar os bichinhos aqui sim...Posso passar a mão no pelinho deles?  O homem achou graça e sorrindo perguntou: - Cadê seu pai, sua mãe? Pode passar a mão sim, menos no filhote pois a mãe ataca! Então a pequena sorriu e passou a sua mãozinha devagar por cima da pelugem de cada um. Ficou encantada com os olhos diferentes e claros, alguns com barbicha e outros com pequenos chifres... Nina apontou a sua casa e disse: -Vou falar com meu pai e saiu em disparada gritando pelo pai, assustando a bicharada. -Pai, pai, pai! O pai da Nina conhecia o dono do terreno, teriam que improvisar um portão para que os bichos não escapassem e tiveram que contratar o seu João para cuidar que os mesmos não fossem roubados. Devagar ela viu o homem desamarrar os machos que correram pelo terreno e na canequinha de metal ela provou o leite da dona Carmela, a mamãe cor caramelo, ordenhada pelo homem. -Que leitinho gostoso, dona Carmela! Disse com a boca de bigode branco... Ficou amiga de todos, ela e a turma, que revesavam durante o dia, os cuidados aos animais. Foi um bom começo de férias. Durante aquela semana Nina tomou leite de cabra, Gabriel não gostava. Brincavam no meio dos bichos, colecionavam histórias entre os tesouros guardados. Foi engraçado ver os bichinhos subindo pela ponte de madeira rumo à caminhonete, subiam bem tranquilos puxados pelo homem. Eles foram mas ficaram guardados na caixinha da memória, onde ela guarda as penas. Onde ela acabou de colocar aquela dourada do Sabiá.

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