Não, não mais buscar: que seja esta, voz da madurez,
a essência do teu grito. Gritaste, em verdade,
com a pureza do pássaro quando erguido pela estação
que ascende, quase esquece que é um ser desamparado,
coração solitário lançado às alturas, na intimidade
do céu. Como ele, buscavas a amiga invisível
que te pressentisse, a silenciosa em que uma resposta
desperta, lenta, e se aquece ao ser ouvida - a companheira
ardente do teu sentimento exasperado. Oh, e a primavera
compreenderia - não há lugar ali sem ecos
da Anunciação. Primeiro, esse leve despertar
do som que interroga e que de longe envolve
num silêncio exaltador, a pura afirmação de um dia.
Depois, os degraus do voo, os degraus-apelo,
até o templo sonhado do futuro - e então os murmúrios,
as fontes que em seu jato impetuoso antecipam a queda,
num jogo promissor... E diante de si, o verão!
Rainer Maria Rilke
do livro: Elegias de Duíno
Pequeno trecho da sétima
a essência do teu grito. Gritaste, em verdade,
com a pureza do pássaro quando erguido pela estação
que ascende, quase esquece que é um ser desamparado,
coração solitário lançado às alturas, na intimidade
do céu. Como ele, buscavas a amiga invisível
que te pressentisse, a silenciosa em que uma resposta
desperta, lenta, e se aquece ao ser ouvida - a companheira
ardente do teu sentimento exasperado. Oh, e a primavera
compreenderia - não há lugar ali sem ecos
da Anunciação. Primeiro, esse leve despertar
do som que interroga e que de longe envolve
num silêncio exaltador, a pura afirmação de um dia.
Depois, os degraus do voo, os degraus-apelo,
até o templo sonhado do futuro - e então os murmúrios,
as fontes que em seu jato impetuoso antecipam a queda,
num jogo promissor... E diante de si, o verão!
Rainer Maria Rilke
do livro: Elegias de Duíno
Pequeno trecho da sétima